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Bolo para emagrecer?

"Comer bolo de chocolate ao pequeno-almoço ajuda a perder peso. É o que revela um estudo realizado numa universidade israelita. De manhã é a melhor altura para comer doces" (Revista Sábado online - 9 Fevereiro 2016).

Apesar de relativamente "recente", esta notícia já circula há anos pela internet. Em 2012, a página do The Telegraph avançava com o título: "Chocolate cake breakfast could help you lose weight. Eating chocolate cake as part of a full breakfast can help you lose weight, say scientists." Desde então, várias versões têm sido partilhadas por esta rede afora. Boas notícias devem ser partilhadas, certo?

Mas qual é a verdadeira NUTRÍcia?

O estudo a que o artigo se refere, foi realizado por uma equipa da Universidade de Telavive (Israel) e publicado na revista Steroids em Julho de 2012. Pode ser consultado aqui.

Meal timing and composition influence ghrelin levels, appetite scores and weight loss maintenance in overweight and obese adults” teve como objectivo analisar o impacto da composição da dieta e sua variação ao longo do dia, na adesão a determinado regime alimentar e seus resultados a longo prazo.

Para esse fim foram utilizadas duas dietas (chamemos-lhe A e B). Ambas continham igual quantidade de calorias, repartidas da seguinte forma ao longo das três principais refeições:

  • Dieta A: pequeno-almoço de 300kcal (baixo em hidratos de carbono) + almoço de 500kcal + jantar de 700kcal.

  • Dieta B: pequeno-almoço de 600 kcal (rico em hidratos de carbono e proteína) + almoço de 500kcal e jantar de 300kcal.

Relativamente ao teor em macronutrientes, a dieta A continha 52% de gordura, 38% de proteína e 10,6% de hidratos de carbono, e a dieta B apresentava 48,6% de proteína, 32% de gordura e 19,6% de hidratos de carbono.

Os 193 participantes (todos adultos e obesos) foram divididos em dois grupos, sendo cada grupo alocado a uma das dietas.

O estudo decorreu ao longo de 32 semanas. Até às 16 semanas os participantes tinham indicação para seguir rigorosamente a dieta prescrita. A partir das 16 semanas, até ao final, os participantes deveriam prosseguir com o mesmo regime, porém, com liberdade para comer conforme o seu apetite.

 

Que resultados obtiveram?

  • No final das 16 semanas, a perda de peso foi semelhante nos dois grupos: cerca de 15kg no grupo da dieta A e cerca de 14kg no grupo da dieta B. ​

  • Da semana 16 à semana 32, o grupo A recuperou 13kg e o grupo B perdeu uns adicionais 7kg.

  • Após o pequeno-almoço, verificou-se uma redução dos níveis de grelina de cerca de 45% no grupo B e de apenas 29,5% no grupo A.

  • Relativamente à saciedade, esta foi maior no grupo B (no qual também se observou uma menor frequência de “desejos”).

E onde entra o bolo de chocolate? Entra na dieta B. Nesta experiência, os participantes do grupo B foram autorizados a consumir, ao pequeno-almoço...um doce. Podiam escolher chocolate, bolachas, bolo, gelado, mousse de chocolate ou um donut.

Ao contrário do que a notícia insinua, não se verificou um efeito “emagrecedor” do bolo de chocolate. O que a equipa de pesquisadores observou, foi que um pequeno-almoço rico em hidratos de carbono e proteína (ainda que contendo um “mimo”), foi mais eficaz na manutenção do peso perdido.

Este resultado é explicado pelo facto do pequeno-almoço "reforçado" do grupo B ter resultado numa maior saciedade e menor sensação de fome ao longo do dia (de facto o grupo B reportou maior saciedade e menos fome relativamente ao grupo A).

Também a maior frequência de desejos reportada pelo grupo A é apontada como um factor que terá levado este grupo a recuperar o peso perdido. O oposto aconteceu no grupo B: os participantes não só não recuperaram o peso, como continuaram a emagrecer. Os investigadores avançam que a possibilidade dada aos participantes do grupo B de consumir um doce ao pequeno-almoço, terá contribuído para atenuar a vontade de comer alimentos "proíbidos".

No que concerne a adesão à dieta, o facto de nas primeiras 16 semanas a perda de peso ter sido semelhante nos dois grupos, sugere um mesmo nível de cumprimento nesta fase. No entanto, na segunda metade do estudo, o ganho de peso pelos participantes do grupo A, indicia que estes tenham aderido em menor escala à sua dieta.

Dados os resultados obtidos, e sendo as dietas isocalóricas, a equipa conclui que além da composição da dieta e quantidade total de calorias, também a repartição diferenciada de calorias e macronutrientes ao longo do dia, poderá influenciar a adesão ao regime alimentar proposto e os seus resultados a longo prazo.

Depois disto, alguém arrisca uma receita de bolo de chocolate emagrecedor? :)

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